Querida Elsa:
Pudesse eu ser quem tu gostavas que eu fosse… eu só te quero como és… ou como foste.
A verdade é que depois de tanto tempo sem te ver muita coisa começa a morrer. Estamos a ficar cada vez mais adultos, e as ilusões que tínhamos á poucos anos começam a dar lugar á realidade… ás muitas realidades que se tornam mais densas e nos vão cercando, impedido de não podermos debruçar-nos na janela do nosso quarto e olhar para o céu, ver as estrelas enquanto sentimos o sabor da noite e o vento tocar na nossa cara. Há não muito tempo conseguia fazer isto. Na janela do meu quarto, olhava para o céu e sorria para a lua. Fazia isto sem ter a angustia que agora sinto. Naquela janela ouvia as músicas que me levavam até ti, naquela janela era feliz apenas porque pensava em ti. Agora, os dias e as noites são só uma questão de luz, os meus dias são passados com a vontade de regressar ao passado, as minhas noites são passadas com a alegria, de ainda de poder recordar.
Está tudo tão diferente, tão difícil…
Costumas pensar em nós Elsa? Naquilo que vivemos? Nas palavras que foram ditas? Nos gestos que foram feitos? No que podiamos ter sido?
Minha querida, já não sou o que era, e nem sequer sei se gosto daquilo em que me tornei. Tenho pena que não te possa ver mais... mas vou te recordar, e sempre que isso aconteça vou sorrir. Todos os dias te trago comigo, e no entanto há muito tempo que finjo que nunca te amei. Se as pessoas que me conhecem soubessem o que sofro… sou capaz de esconder tudo, mas vou chegar ao fim, e vou sentir que que perdi o que de mais importante existia na minha vida. E apesar de saber que nada vai mudar enquanto não tomar uma atitude, continuo aqui sem ter coragem para te procurar.
Foste a minha maior alegria e no entanto, agora, és a minha maior angústia... sozinho guardo este sentimento só para mim. É angústia porque te perdi, e perdi-te porque nunca consegui ser a pessoa que tu gostavas que eu fosse. Escondi-me sempre atrás do amor que sentia por ti: nunca o transformei em actos… estive demasiado tempo quieto. É isto que eu sou. E talvez por mais que conseguisse mudar nunca seria a pessoa que tu pudesses amar. Dói, e apesar de tudo, todo o meu futuro vai girar em torno de ti, tudo o que vou fazer é por ti, tudo o que vou ser, vou sê-lo por ti. Porque talvez um dia te lembres de mim, e nessa altura quando me encontrares, vou olhar para ti, e saber que foste tu que me mudaste. Se algum dia regressares vou estar á tua espera.
Sei que casaste... como é possivel.... tu que tinhas tantos sonhos, tanta coisa para fazer, para ser, tanta vontade para viver... e eu continuo aqui, sempre com a esperança que me possas dizer algo. Sempre a viver naquele mundo que eu criei, do qual fazes parte, e onde és o seu centro, mas que eu fechei com correntes com medo que não gostasses. É isto que eu sou, foi nisto que tu me transformas-te...
Querida Elsa,
este texto é teu... tal como tudo o que daqui em diante puder vir a ser escrito... é por ti e em ti que o faço...estas são as palavras que me vão levar sempre ao tempo em que me mostra-te a alegria do amor... são as palavras de quem te ama, mas que há muito te perdeu...
Nunca tanto foi tão importante como tu. Olhei o contorno das tuas costas, fixei o perfil do teu rosto, sorria com a forma como te sentavas, como pegavas na caneta e escrevias. Decorava cada pormenor da tua roupa. Naquele agora já sabia que ia recordar aqueles instantes, e tinha a certeza de que ficarias para sempre na minha alma. Sabia que iria sofrer, que até quem sabe nunca me irias entender… mas que importância isso tinha? Nenhuma. Eu tinha-te descoberto… sabia que nunca mais me iria separar de ti, e no entanto poderias esquecer-me. Nunca experimentara nada assim: sabia que estava perdido, mas ali encontrei tanta convicção e certeza, tanta vontade de te mostrar que eu, naquele instante mudava por ti. Percebi tudo o que tinha perdido até ali, fiquei feliz pelo que encontrei. Senti o teu cheiro, que iria ficar marcado em mim. Apenas decorava os teus gestos, não te olhava de frente, porque não podia, não sabia o som da tua voz, a cor dos teus olhos, mas sabia que serias a minha nova vida. Sabia que te amava. Ali, naquele agora eu tinha tudo o que precisava. Podia e desconfiava que iria sofrer, mas que importância isso tinha comparado com a vontade que agora tinha de viver, com a certeza que dali em diante iria viver para uma nova vida. Agradeço-te, em silêncio, por isso.
Este foi o principio...naquele mês de Abril de 2001... numa aula de françês... tudo o que até ali tinha como certo, acabou por se tornar numa corrente de incertezas que viriam a mudar a minha vida. Foi ali que te vi... foi ali que te amei... este foi o principio...