Assim vivias… para os sonhos. A tua máscara de perfeição foi maravilhosamente concebida, era a obra de arte por eleição. Era rara, tão rara e bela. Era tudo aquilo que querias e tinha tudo aquilo pelo que recusaste todos os outros. Minto, fui só eu. Eu, somente eu. E sempre que falarei de ti, falarei de mim. Porque tu estás em mim, como eu estou em ti. E na tua selecção, e no teu recusar, eu existo. E nesse sorriso que te fascinou não há nada. Nem dentro dessa pessoa tão imaculadamente tua. Nada, nada, nada. Só o tempo que perdeste, julgando ganhar. Até que do nada surge o que parece tudo, e a minha cova torna-se mais funda a cada imagem de saudade tua. E não me vias nunca. Eu chorava e gritava aos teus ouvidos e tu não ouvias nunca. As minhas lágrimas eram rios na tua roupa engomada, e tu não sentias nunca. A minha alma estava nua para ti, era o corpo que exteriorizava o que a alma agonizava, e eu estava tremendamente nu. E ás vezes para que me olhasses, ainda tentava sorrir, mas nunca vias nada. Olhavas em frente, como se olhasses para Deus, e tinhas vergonha. Eu sentia o teu coração fraco, e desmesuradamente forte. Não era de carne ou de sangue que ele era feito, mas de ar, e sentias-te tão cheia. E o meu coração ficava igual ao teu, tão cheio de ar. Tão cheio de nada. Até que não mais te vi. E tudo o que te posso dar foi o que vi, vivi, por ti. Vi os teus movimentos como nunca vira. E do mesmo modo que guardaste o sorriso, eu guardei o clímax do teu corpo para recordar depois de morto. Eu morri naquele momento, como morro de cada vez que me matas, cada vez que te recordo, porque não esperneio, não choro, não grito. Já não. Os mortos não sentem. Morri.
Um Beijo minha querida